Cuidar, esta arte que precede todas as outras, sem a qual não seria possível existir, está na origem de todos os conhecimentos e na matriz de todas as culturas.
É indiscutível: a potencialidade interna que cada indivíduo dispõe, independentemente do seu estatuto físico, intelectual e social e como a nossa individualidade é influenciada pelo meio em que estamos inseridos, não só em termos económicos, mas também ideológicos e relacionais. Contudo, ainda que o contexto e as nossas singularidades tenham uma influência manifesta nas nossas escolhas e ações, há sempre uma possibilidade de opção individual, capacidade intrínseca do ser humano, a qual é potencializada negativa ou positivamente e de forma indubitável, por uma rede de segurança, a nossa aldeia.
Mas…Como incluir a verdadeira essência do significado de cuidar ao nível da saúde? Como abordar o que se tece na encruzilhada deste tema na sua infinita diversidade, na sua movimentação e flutuação, à mercê do impacto do tempo, da qualidade e dos custos?
O equilíbrio harmonioso entre a intervenção clínica, social e económica, com a expectativa de destruição dos muros existentes entre os clínicos e os doentes e as suas famílias é difícil de atingir, mas não impossível. Esta polaridade, não isenta de dificuldades e desafios, destaca a necessidade de uma postura colaborativa, onde todos os elementos desempenham papéis com igual valor. Os profissionais de saúde têm um sentimento de missão, e cuidar dos outros é encarado como um desígnio de missão, estando expostos a uma pressão e exigência acentuadas. Devolver ao outro, sobretudo de forma positiva, o que é depositado em nós, é de uma seriedade e exigência enorme. Requer uma capacidade de escuta, empatia, mas também de conhecimento, análise e elaboração máximas. Mas o sucesso terapêutico não depende só de nós técnicos especialistas. Ao longo da minha prática clínica, tornou-se claro que a família (e, quando aplicável, o estabelecimento de ensino) é um elemento principal nesta equação, sobretudo nas faixas etárias mais jovens, dependendo desta relação simbiótica o sucesso da intervenção e dos cuidados prestados. É necessário acomodar as famílias (e a escola) e confrontar os sintoma, envolvendo a família (e a escola) na reflexão e na resolução de determinado problema, enaltecendo a sua competência.
Depois, mas não menos importante, importa referir o fator tempo, presente em qualquer processo de transformação, e cada vez mais fugidio na sociedade atual, onde queremos resultados céleres, com o menor envolvimento possível. Nunca o respeito e valorização do tempo foram tão importantes, onde teremos que aprender a aguardar, com serenidade, não esquecendo a diferença entre perder tempo e ter pressa. Não nos devemos demitir da nossa responsabilidade no processo de transformação e mudança (nosso e do outro): já que não podemos mudar o vento, mudemos a direção das nossas velas. O porquê assume pouca relevância no processo, não acrescentando valor. Direcionemos a intervenção, a narrativa, a família, os docentes e o sistema para o onde, o como, o quando e o para quê, procurando o caminho da homeostase.
Para aquelas e aqueles que, pelos cuidados, fizeram não só nascer para a vida, mas também contribuíram para inserção no tecido clínico, académico, social e cultural poder existir para a vida, não se esqueçam do seu superpoder!
É baseado na convicção destes valores e deste superpoder que nasceu o projeto Azul Cardume:
Acreditamos que juntos é melhor! E, se estamos juntos, é porque compreendemos os valores da solidariedade, que também são os da família;
Queremos ajudar famílias e crianças numa perspetiva holística, dinâmica e singular, com base no respeito, no afeto e na excelência;
Comprometemo-nos decifrar, acompanhar e cuidar de cada criança e respetiva família, promovendo a sua inclusão e desenvolvimento harmonioso.
Quem nos procura, encontrará uma família e não só uma equipa especializada. Juntam-se a nós nesta aventura?
Com amor, Maria.